Quinhentismo

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Sendo não somente uma, mas o conjunto de várias manifestações literárias do Brasil do Século XVI, o Quinhentismo representa o momento em que a cultura da Europa Ocidental adentra o território brasileiro.

Contexto histórico

No auge das Grandes Navegações, principalmente portuguesas e espanholas, as expedições marítimas levavam sempre consigo os escrivães, também conhecidos como cronistas de viagem. Tais profissionais, extremamente prestigiados por suas habilidades de leitura e escrita, eram essenciais para os relatos e registros das expedições. Contudo, é inválido tomar as obras produzidas por estes escrivães como uma literatura meramente informativa, dada a habilidade de criação e a inspiração poética dos autores para com os relatos.

Para tal período vale também ressaltar que a literatura não era literalmente brasileira, mas uma literatura de chegada, ocorrida em território brasileiro, uma vez que era expressa por europeus e seus interesses mercantilistas.

Literatura informativa

Também conhecida como literatura dos viajantes ou literatura dos cronistas, a literatura informativa teve o objetivo de levantar informações sobre as “novas terras”, o Brasil e as demais colônias portuguesas, devido às Grandes Navegações. Tal literatura tem uma forma voltada quase que inteiramente para a descrição, com pouco valor literário e com a característica principal de exaltação à terra nova perante o contraste entre o território europeu e a exótica natureza da nova colônia.

Pero Vaz de Caminha

Pero Vaz de Caminha era escrivão-mor da esquadra de Pedro Álvares Cabral. Escritor e vereador de Portugal, o autor descreveu suas primeiras impressões acerca do território brasileiro através da “Carta de Pero Vaz de Caminha” de 1° de maio de 1500.

A carta de Caminha ao Rei D. Manuel, rei de Portugal, é tida como ponto inicial da literatura brasileira, uma vez que foi o primeiro documento sobre a história do Brasil. Abaixo, veja um trecho da carta.

Carta a el-Rei Dom Manuel sobre o achamento do Brasil

Senhor, posto que o capitão-mor desta vossa frota, e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a nova do achamento desta Vossa terra nova, que se ora nesta navegação achou, não deixarei de também dar disso minha conta. (…)

E assim seguimos nosso caminho, por este mar, de longo, até terça-feira d’oitavas de Páscoa, que foram 21 dias d’Abril, que topamos alguns sinais de terra (…) E à quarta-feira seguinte, pela manhã, topamos aves, a que chamam fura-buchos. Neste mesmo dia, a horas de véspera, houvemos vista de terra, isto é, primeiramente d’um grande monte, mui alto e redondo, e d’outras serras mais baixas ao sul dele e de terra chã com grandes arvoredos, ao qual monte alto o capitão pôs o nome o Monte Pascoal e à terra A Terra de Vera Cruz. (…)

E dali houvemos vista d’homens, que andavam pela praia, de 7 ou 8, segundo os navios pequenos disseram, por chegaram primeiro. (…) A feição deles é serem pardos, maneira d’avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem nenhuma cobertura, nem estimam nenhuma cousa cobrir nem mostrar suas vergonhas. E estão acerca disso com tanta inocência como têm em mostrar o rosto. (…)

Ali andavam entre eles três ou quatro moças, bem moças e bem gentis, com cabelos muito pretos, compridos, pelas espáduas; e suas vergonhas tão altas e tão çarradinhas e tão limpas das cabeleiras que de as nós muito bem olharmos não tínhamos nenhuma vergonha. (…)

O capitão, quando eles vieram, estava assentado em uma cadeira e uma alcatifa aos pés por estrado, e bem vestido, com um colar d’ouro mui grande ao pescoço. (…) Um deles, porém, pôs olho no colar do capitão e começou d’acenar com a mão para a terra e despois para o colar, como que nos dizia que havia em terra ouro. E também viu um castiçal de prata e assim mesmo acenava para a terra e então para o castiçal, como que havia também prata. (…)

Até agora não pudemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal, ou ferro; nem lha vimos. Contudo a terra em si é de muito bons ares frescos e temperados como os de Entre-Douro-e-Minho, porque neste tempo d’agora assim os achávamos como os de lá. Águas são muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem! Porém, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar. (…)

Pintura do desembarque de Pedro Álvares de Cabral em Porto Seguro em 1500
Desembarque de Pedro Álvares de Cabral em Porto Seguro em 1500.

Literatura de viagem

Diferente da literatura informativa, na qual o rigor da formalidade era necessário, a literatura de viagem era dada por viajantes que se deslocavam aos países descobertos a fim de encontrar aspectos exóticos como criaturas jamais vistas em terreno europeu ou comunidades nativas. Os escritores desta vertente estimulavam a curiosidade de seus leitores quanto aos lugares recém-descobertos.

São três os principais autores dessa vertente: Pero de Magalhães Gândavo, autor de “Tratado da terra do Brasil” (1537) e “História da província de Santa Cruz, a que vulgarmente chamamos Brasil” (1576); Gabriel Soares de Sousa, autor de “Tratado Descritivo do Brasil” (1587), enviado ao rei da Espanha como um relato que mostrava as belezas da terra brasileira e Ambrósio Fernandes Brandão, autor de “Diálogos da grandezas do Brasil” (1618), um diálogo entre dois imigrantes sobre a “Terra Nova” brasileira.

Literatura jesuítica

Também chamada de literatura catequética, a literatura jesuítica é voltada para um teor moralista e à serviço da Companhia de Jesus, organização religiosa associada à Igreja Católica, e do processo da Contrarreforma. Sua pretensão era a catequização dos indígenas e a moralização dos colonos portugueses do território brasileiro.

Pintura A elevação da Cruz em Porto Seguro 1879. Museu Nacional de Belas Artes
A elevação da Cruz em Porto Seguro, 1879. Museu Nacional de Belas Artes.

José de Anchieta

O maior destaque da literatura jesuítica é José de Anchieta, denominado “o apóstolo do Brasil”. Nascido nas ilhas Canárias em 1354, o autor ingressou na Companhia de Jesus por volta de seus 17 anos.  Aos 21 anos, Anchieta chega ao território brasileiro com a missão jesuítica do Padre Luís Grã. Em 1544, Anchieta funda o Colégio de Piratininga em São Paulo, onde escreveu inúmeras obras de ensino para a catequização.

Anchieta dedicou-se ao aprendizado da cultura indígena local, de forma a conhecer mais este novo público e promover a catequização destes. Desta forma, foi o autor da primeira gramática da língua tupi, além de diversos autos, inspirados naqueles de Gil Vicente, que misturavam a cultura indígena com a moral cristã que pretendia ensinar.

Retrato do Padre José de Anchieta, Acervo Museu Paulista (USP)
Retrato do Padre José de Anchieta, Acervo Museu Paulista (USP).

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