Alelos múltiplos

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Em cada lócus gênico podem ser encontrados dois alelos diferentes. Eventualmente, no entanto, um lócus pode ser ocupado por séries de três ou mais alelos diferentes denominados alelos múltiplos, e o padrão de herança que eles determinam é a polialelia. Um grande exemplo conhecido de polialelia é a determinação da cor de pelagem em coelhos. Existem quatro tipos de pelagem: selvagem ou aguti é a pelagem mais frequente, em animais marrons ou cinza-escuro; chinchila, pelagem cinza prateado; himalaia, animais brancos, mas com algumas regiões pretas; albino, pelo dos animais totalmente brancos e com olhos vermelhos. Essa herança se condiciona por uma série de quatro alelos múltiplos:

C – Determina pelagem selvagem;

Cch – Determina pelagem chinchila;

Ch – Determina pelagem himalaia;

Ca – Determina pelagem albino

Exemplo de coelhos com diferentes cores de pelagens
Exemplo de coelhos com diferentes cores de pelagens

Entre esses alelos, há uma relação de dominância: C > Cch > Ch > Ca. Essa representação indica que o alelo C é dominante sobre todos os demais. O alelo Cch é dominante sobre Ch e sobre c. O alelo Ch é dominante apenas sobre ao alelo c. Podemos realizar cruzamentos e estabelecer relações entre cada genótipo e fenótipo. A seguinte fórmula determina quantos genótipos diferentes são possíveis (para o coelho, são dez):

C = \frac{n(n+1)}{2}

Sistema ABO

O sangue é um líquido aparentemente homogêneo. No entanto, ele é formado por duas fases distintas: uma parte que é líquida, o plasma, e uma parte sólida, constituída por elementos figurados (glóbulos vermelhos – cheios de hemoglobina e responsáveis pelo transporte de oxigênio; glóbulos brancos – que participam do combate contra infecções e; plaquetas – desencadeiam a coagulação do sangue. O sistema ABO de classificação foi desenvolvido através de um estudo para identificar tipos sanguíneos em seres humanos. Os resultados obtidos foram cruciais na prevenção em acidentes com transfusões sanguíneas (como por exemplo obstruções de vasos, provocados por aglutinação do sangue recebido).

Aglutinogênios e aglutininas

Na membrana plasmática dos glóbulos vermelhos são encontradas determinadas proteínas que alguns indivíduos têm e outros não. Um indivíduo que não possui uma dessas substâncias pode reconhecê-la como uma partícula estranha (antígeno). Landsteiner conseguiu em seus estudos identificar dois antígenos que ele denominou de aglutinogênios: o aglutinogênio A e o aglutinogênio B. Ao analisar o sangue de diversas pessoas, ele os classificou em quatro grupo de pessoas que possuíam diferentes tipos de anticorpos contra esses aglutinogênios. Esses anticorpos foram chamados de aglutininas, e são de dois tipos: anti-A (alfa) ou anti-B (beta). Assim, classificou os tipos sanguíneos da seguinte forma:

Tipo A: tem antígeno A e plasma com aglutinina anti-B;

Tipo B: tem antígeno B e plasma com aglutinina anti-A;

Tipo AB: tem antígeno A e antígeno B; o plasma não apresenta aglutinina anti-A nem anti-B;

Tipo O: não tem antígeno A nem antígeno B; o plasma tem aglutinina anti-A e anti-B.

Determinação do tipo sanguíneo
Determinação do tipo sanguíneo

Transfusão sanguínea

É um evento em que um indivíduo recebe sangue de outro indivíduo. O ideal é que o sangue seja do mesmo tipo, mas, se inexistir essa possibilidade, deve-se atentar ao receptor do sangue, para que o sangue recebido não sofra aglutinação das hemácias do doador. Basicamente, o receptor não pode ter anticorpos contra o antígeno do doador.

\begin{tabular}[width=\linewidth]{|c|c|c|}  \hline  & Receptor n\~ao &  \\  Doador & pode ter & Receptor\\  &anticorpos& \\\hline  Tipo A & Anti-A & A e AB\\\hline  Tipo B & Anti-B & B e AB\\\hline  & Anti-A  & \\  Tipo AB &  e & AB \\  &  anti-B & \\\hline  Tipo O & ------ & A, B, AB, O\\\hline  \end{tabular}

Cada grupo pode doar para o próprio grupo; os portadores do sangue tipo O podem doar para todos os outros grupos sanguíneos (A, B e AB), sendo doadores universais; os portadores do tipo sanguíneo AB podem receber de todos os outros grupos (A, B, O), sendo receptores universais.

Genética do sistema ABO

Os tipos sanguíneos são codificados pela presença de três alelos: IA, IB e i. Onde i é recessivo e IA e IB  são codominantes. O alelo i irá determinar o tipo O, já o alelo IA  estabelece o tipo A e o IB é responsável pelo tipo B. Para o tipo AB, o indivíduo é heterozigoto IAIB , não se tratando de um fenótipo intermediário entre o A e o B, mas sim dois fenótipos expressando um caso de codominância.

Sistema Rh

Na década de 40, Wiener e Landsteiner realizaram a descoberta de um novo antígeno, desta vez no sangue de macaco-rhesus, ou reso, espécie atualmente denominada Macaca mulatta. Não é a espécie mais próxima do ser humano, no entanto há um parentesco evolutivo entre os humanos e o macaco-rhesus, evidenciado por similaridades bioquímicas do DNA, que também se relaciona com o sistema sanguíneo Rh, que tem importantes aplicações clínicas. As hemácias presentes no rhesus são dotadas de aglutinogênio (antígeno) próprio, que foi denominado Rh. Estudos demonstraram que 85% das pessoas também possuem esse antígeno e, por isso, são classificados como tendo tipo sanguíneo Rh positivo (Rh+) e os 15% demais da população que não apresentam o antígeno são do tipo sanguíneo Rh negativo (Rh-). No organismo dos indivíduos não são encontrados anticorpos anti-Rh, eles estão presentes apenas em pessoas que tenham o sistema imune sensibilizado por contato prévio com um sangue de tipagem diferente. Sendo assim, um indivíduo Rh- produzirá anticorpos, ou aglutininas, anti-Rh se receber hemácias Rh+ em sua circulação; já um indivíduo portador de sangue Rh positivo não produz anti-Rh.

Transfusão sanguínea

 

Um fato interessante em relação à transfusão sanguínea do fator Rh é que indivíduos com Rh+ são receptores universais: eles podem receber sangue do mesmo tipo (Rh+), assim como podem receber sangue Rh negativo. Já um indivíduo Rh- somente pode receber sangue do seu mesmo tipo (Rh-), pois se receber Rh+, cuja hemácias apresentam antígeno Rh em sua superfície, o receptor produzirá anticorpos anti-Rh e irá desenvolver memória imunitária que ocasionará danos severos aos indivíduos. Pessoas com o tipo Rh- podem doar para os tipos Rh+ e Rh-, por isso, um indivíduo Rh- é considerado doador universal.

Genética do sistema Rh

O sistema RH possui dois alelos o R e r, sendo o primeiro (R) dominante, que irá condicionar o tipo Rh+ e o segundo, recessivo (r), que em homozigose determina Rh-. Sendo assim, temos os seguintes genótipos: Rh positivo (RR, Rr); Rh negativo (rr).

Doença Hemolítica do Recém-Nascido (DHRN)

Geralmente, os bancos de sangue testam as amostras recebidas em doação, tornando rara a situação em que um indivíduo recebe sangue incompatível. Entretanto, há uma forma, mais difícil de ser evitada, de uma pessoa com sangue Rh negativo entrar em contato com uma de sangue Rh positiva e produzir anticorpos anti-Rh, que ocorre, geralmente, durante a gestação, se uma mulher Rh negativo estiver grávida de uma criança Rh positivo.

A eritroblastose fetal (EF) é o distúrbio decorrente da incompatibilidade entre o sangue da mãe e o sangue do filho. Geralmente, ocorre em casais em que o homem é Rh positivo e a mulher é Rh negativo. Ao gerar filhos (Rh+), a mãe pode sofrer sensibilização contra hemácias do filho, o que ocasiona anticorpos anti-Rh. A primeira linhagem (o primeiro filho) nascido Rh+ não é afetado, mas caso o casal tenha um segundo ou terceiro filho com o tipo Rh+, há uma alta possibilidade de a criança nascer com DHRN, caso não seja feito tratamento prévio adequado.

Portanto, durante a primeira gravidez (do filho Rh+) acontece a sensibilização da mãe e ao final dela, o feto apresenta ruptura de um grande número de hemácias (o que caracteriza a doença “hemolítica” do recém – nascido”). Algumas dessas hemácias do filho atravessam a barreira da placenta e passam para a circulação sanguínea da mãe e são reconhecidas, pelo sistema imunológico, como corpos estranhos, que passa a produzir anti-Rh. Como consequência do contato com o sangue Rh+ do recém-nascido, a mulher foi imunizada e desenvolveu a memória imunitária, o que ocasiona problemas nas futuras gestações, pois as hemácias Rh+ do filho podem atravessar a placenta e passar para a circulação materna. A mãe irá produzir grande quantidade anti-Rh que serão capazes de atravessar a placenta e atacar as hemácias Rh+ do feto, causando hemólise. Todos esses eventos comprometem no transporte de gás oxigênio, o que pode afetar o cérebro do bebê, podendo ser letal à criança ou causar sérios danos neurológicos, como paralisia, cegueira, retardo mental, dentre outros.

O organismo do feto, quando em contato com os anti-Rh da mãe, reage à destruição de hemácias, liberando na circulação eritroblastos, ou seja, hemácias imaturas e dotadas de núcleo, caracterizando a “eritroblastose fetal”. Após diagnosticado, o tratamento se baseia numa rápida transfusão com sangue Rh negativo, o que evita que as hemácias do bebê sejam atacadas pelos anticorpos anti-Rh da mãe ainda presentes no organismo do recém-nascido. Passados alguns dias, os anticorpos maternos serão destruídos e não irão causar danos e a criança passa à produção de hemácias de acordo com seu genótipo.

A prevenção pode ocorrer ao se constatar que o casal tem probabilidade [LINK – Genética] de gerar filhos com DHRN, observando os fatores Rh do casal. Se for positivo, a mulher pode receber uma injeção com soro anti-Rh que promoverá a destruição das hemácias Rh+ que ela receberá do filho, evitando a sensibilização, diminuindo as chances dos outros filhos desenvolverem a doença. Se ambos possuírem o mesmo tipo sanguíneo (tanto Rh+ quanto Rh-) a doença não tem probabilidade de se desenvolver.

Sistema MN

Além dos sistemas ABO e Rh, Landsteiner também caracterizou o sistema MN, que se caracteriza por ser um caso de herança sem dominância ou codominância. Ele e seu amigo Levine descobriram na membrana dos glóbulos vermelhos outros dois antígenos M e N. Ao aplicarem em cobaias, desencadeiam a produção de anticorpos anti-M e anti-N, respectivamente. A presença desses antígenos não provoca reações de incompatibilidade durante a realização das transfusões e conhecer esse sistema é somente para fins de identificação de pessoas ou de investigação de paternidade. Entre os alelos LM e LN não há dominância.

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