Trovadorismo

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O Trovadorismo é um estilo literário característico da Idade Média. O pensamento teocêntrico predominante do período, em virtude do poder exercido pela Igreja católica na Europa, teve grande influência no estilo, de forma que a priorização do sagrado era uma de suas principais características. O sistema econômico e social regente da Europa medieval, o Feudalismo, também foi objeto das cantigas e poemas produzidos no período, sendo a sociedade feudal um dos alvos das observações e criações trovadorescas.

Cantigas do trovadorismo

As cantigas do trovadorismo, ou trovadorescas, eram poemas cantados criados pelos poetas da época. Esses poemas eram sempre acompanhados de instrumentos musicais como a flauta doce, o alaúde, tambores, violas de arco, entre outros.

Os poetas trovadorescos eram, em suma, de origem nobre, pois o domínio da leitura e da escrita era adquirido apenas pelas classes mais altas dos feudos. Além disso, camponeses e trabalhadores diversos possuíam pouca disponibilidade para o aprendizado de instrumentos musicais.

As cantigas costumam ser categorizadas em cantigas líricas (subdividas em “de amor” e “de amigo”) e cantigas satíricas (subdividas em “de escárnio” e “de maldizer”), como veremos a seguir.

Estátua de um trovador sobre um fundo de partituras
Trovador.

A primeira cantiga e o primeiro trovador

Atribui-se a Paio Soares de Traveirós a primeira cantiga do Trovadorismo, a “Cantiga de Ribeirinha”. Ele a compôs por volta do ano 1198, em galego-português, a língua que deu origem ao que se conhece como a língua portuguesa atualmente.

A cantiga de Paio Soares homenageava d. Maria Paes Ribeiro, preferida do rei d. Sancho I.

Cantiga de Ribeirinha

“No mundo non me sei parelha,
mentre me for’ como me vai,
ca ja moiro por vós – e ai!
mia senhor branca e vermelha,
Queredes que vos retraia
quando vos eu vi em saia!
Mao dia me levantei,
que vos enton non vi fea!

E, mia senhor, des aquel di’, ai!
me foi a mi muin mal,
e vós, filha de don Paai
Moniz, e ben vos semelha
d’haver eu por vós guarvaia,
pois eu, mia senhor, d’alfaia
Nunca de vós ouve nem ei
valía d’ũa correa.”

Observa-se, na cantiga de Paio Soares a composição por oito versos por estrofe, conhecida como “oitava

Cantigas de amor

Pertencendo às cantigas do tipo lírica, as cantigas de amor são originárias da região de Provença e possuem uma temática sentimentalista onde a profundidade das emoções são levadas em conta.

Essas cantigas apresentavam como tema recorrente o sofrimento amoroso e um eu lírico masculino.

Exemplo:

“Ai mia senhor! tod’o bem mi a mi fal,
mais nom mi fal gram coita, nem cuidar,
des que vos vi, nem mi fal gram pesar;
mais nom mi valha O que pod’e val,
se hoj’eu sei onde mi venha bem,
ai mia senhor, se mi de vós nom vem!

Nom mi fal coita, nem vejo prazer,
senhor fremosa, des que vos amei,
mais a gram coita que eu por vós hei,
já Deus, senhor, nom mi faça lezer,
se hoj’eu sei onde mi venha bem,
ai mia senhor, se mi de vós nom vem!

Nem remnom podem veer estes meus
olhos no mund'[ond’] eu haja sabor,
sem veer vós; e nom mi val[h]’Amor,
nem mi valhades vós, senhor, nem Deus,
se hoj’eu sei onde mi venha bem,
ai mia senhor, se mi de vós nom vem!”

Cantigas de amigo

Também do tipo lírica, as cantigas de amigo são originárias da Península Ibérica e formam a origem mais antiga do lirismo português. Nessas cantigas, o poeta trovador tenta traduzir sentimentos femininos, assumindo a personalidade de uma mulher da época, ou seja, o eu lírico é feminino.

Vale ressaltar que a palavra “amigo”, na época, tinha a significância de “namorado” ou “amante”.

Exemplo:

Ai flores, ai, flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo?
ai, Deus, e u é?

Ai flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado?
ai, Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pos comigo?
ai, Deus, e u é?

Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do que mi a jurado?
ai, Deus, e u é?

Vós me perguntades polo voss’amigo?
E eu ben vos digo que é viv’ e sano
ai, Deus, e u é?

Vós me perguntades polo voss’amado?
E eu ben vos digo que é viv’e sano
ai, Deus, e u é?

Cantigas de escárnio

As cantigas de escárnio pertencem às cantigas do tipo satírica. Possuíam uma sátira indireta e sutil, utilizando da ironia, sarcástica, e nunca pronunciando o real nome do alvo da cantiga.

Exemplo:  Trecho da cantiga de Pero da Ponte.

“De um certo cavaleiro sei eu, por caridade,
que nos ajudaria a matar tal saudade.
Deixai-me que vos diga em nome da verdade:
Não é rei nem é conde mas outra potestade,
que não direi, que direi, que não direi…”

Cantigas de maldizer

Também do tipo satírica, as cantigas de maldizer são caracterizadas pela sátira direta, vulgar e grosseira. Possuem em seu conteúdo palavras de baixo calão e citam o nome do alvo da sátira.

Exemplo: Cantiga de Dom Afonso X

“Trovas não fazeis como provençal
mas como Bernaldo o de Bonaval.
O vosso trovar não é natural.
Ai de vós, como ele e o demo aprendestes.
Em trovardes mal vejo eu o sinal
das loucas ideias em que empreendestes.”

Cancioneiros do trovadorismo

Cancioneiros do fim do Século XIII e início do Século  XIV são os mais antigos textos da literatura portuguesa.

Boa parte da literatura trovadoresca se perdeu pela falta de registros, uma vez que o período foi marcado pela oralidade das obras. Assim, a maior parte das produções desse período literário estão compiladas em três cancioneiros. São estes o “Cancioneiro da Ajuda”, “Cancioneiro da Biblioteca Nacional” e “Cancioneiro da Vaticana”.

Cancioneiro da Ajuda

Desenvolvido no reinado de Afonso III e contendo 310 composições, o Cancioneiro da Ajuda é o mais antigo dos cancioneiros e o mais incompleto, agrupando somente cantigas anteriores ao reinado de d. Dinis, rei de Portugal durante o período de 1268 a 1325.

Exemplo:

“Quantas sabedes amar amigo

treydes comig’ a lo mar de Vigo:

E banhar-nos-emos nas ondas!

 

Quantas sabedes amar amado

treydes comig’ a lo mar levado:

E banhar-nos-emos nas ondas!

 

Treydes comig’ a lo mar de Vigo

e veeremo’ lo meu amigo:

E banhar-nos-emos nas ondas!

 

Treydes comig’ a lo mar levado

e veeremo’ lo meu amado:

E banhar-nos-emos nas ondas!”

Cancioneiro da Biblioteca Nacional

O Cancioneiro da Biblioteca Nacional é uma conhecida coletânea de obras trovadorescas também chamada de “Collocci-Brancuti”. É uma cópia italiana feita no Século XVI e possui 1.647 cantigas de todos os tipos.

Exemplo:

“Em gram coita, senhor,
que peior que mort’é,
vivo, per bõa fé,
e polo voss’amor
esta coita sofr’eu
por vós, senhor, que eu

vi polo meu gram mal;
e melhor mi será
de moirer por vós já;
e, pois me Deus nom val,
esta coita sofr’eu
por vós, senhor, que eu

polo meu gram mal vi;
e mais mi val morrer
ca tal coita sofrer
pois por meu mal assi
esta coita sofr’eu
por vós, senhor, que eu

vi por gram mal de mi,
pois tam coitad’and’eu.”

Cancioneiro da Vaticana

Nomeado desta maneira por ter sido encontrado na Biblioteca do Vaticano, em Roma, o Cancioneiro da Vaticana contém 1.205 cantigas de todos os tipos.

Exemplo:

“Levad’, amigo, que dormides as manhanas frías;
toda-las aves do mundo d’amor dizían.
Leda m’and’eu.

Levad’, amigo, que dormide-las frías manhanas;

toda-las aves do mundo d’amor cantavan.
Leda m’and’eu.

Toda-las aves do mundo d’amor dizían;
do meu amor e do voss’en ment’havían.
Leda m’and’eu.

Toda-las aves do mundo d’amor cantavan;
do meu amor e do voss’i enmentavan.
Leda m’and’eu.

Do meu amor e do voss’en ment’havían;
vós lhi tolhestes os ramos en que siían.
Leda m’and’eu.

Do meu amor e do voss’i enmentavan;
vós lhi tolhestes os ramos en que pousavan.
Leda m’and’eu.

Vós lhi tolhestes os ramos en que siían
e lhis secastes as fontes en que bevían.
Leda m’and’eu.

Vós lhi tolhestes os ramos en que pousavan
e lhis secastes as fontes u se banhavan.
Leda m’and’eu.”

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