Humanismo

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O Humanismo corresponde ao período entre o fim do Trovadorismo e o início do Classicismo, marcado pelo distanciamento entre a poesia, agora mais rebuscada, e a música.  Assim, mediando o fim da Idade Média e início do Renascimento, o Humanismo surge com revoluções nas diferentes formas de arte, marcando a transição do pensamento teocêntrico marcante da Idade Média para o antropocêntrico do Renascimento.

Contexto histórico

O Humanismo se inicia em Portugal em 1418, quando d. Duarte nomeia Fernão Lopes como guardador da Torre do Tombo, e termina em 1527, com a chegada dos versos decassílabos em forma de sonetos, conhecidos como “medida nova”.

Com as revoluções populares do final do Século XIV, em virtude das Grandes Navegações e ascensão da burguesia, o Humanismo se iniciou em Portugal como uma literatura de transição. Assim, o Humanismo português pode ser considerado um marco entre o Portugal conservador e o Portugal moderno, que se tornaria uma potência global e líder do comércio e exploração marítima.

Humanismo em Portugal

Com a nomeação de Fernão Lopes como cronista, iniciou-se o Humanismo em Portugal. Neste período, a língua portuguesa começou a criar sua própria identidade, diferenciando-se do galeglo, e isso influenciou diretamente no maior desenvolvimento literário em relação ao período antecessor.

As manifestações literárias do Humanismo português variavam em três: a crônica histórica de Fernão Lopes, a poesia palaciana e o teatro popular de Gil Vicente.

Crônica histórica

Fernão Lopes (1390-1460) foi o maior representante da crônica histórica humanista e fundador da historiografia de Portugal. O autor fez obras icônicas como “Crônica de El-Rei D. Pedro I”, “Crônica de El-Rei D. Fernando” e “Crônica de El-Rei D. João I”, de forma que é notável sua preferência por crônicas históricas sobre os Reis Gloriosos de Portugal.

Apesar disso, Fernão Lopes não se conteve apenas em descrever nobres e aristocratas, de forma que o cotidiano da sociedade portuguesa, assim como as visões e opiniões públicas da época, se mostram bem documentadas em seus trabalhos.

Poesia Palaciana

Tendo Garcia de Resende (1470-1536) como maior representante, as poesias palacianas eram produzidas por nobres e feitas para nobres, em palácios. Em comparação às cantigas do Trovadorismo, mostram-se mais rebuscadas, pelo uso de recursos linguísticos, feitas para a declamação e não para o canto, ainda perdendo o acompanhamento de instrumentos musicais. Assim, há um distanciamento entre música e poesia.

Cancioneiro Geral” foi a principal obra de Garcia de Resende. A obra é um compilado de produções organizado por Garcia e publicado em 1516.

Teatro Popular de Gil Vicente

Considerado patrono do teatro português, Gil Vicente (1465-1536) destacou-se pelos “autos” e “farsas” como o “Auto da Visitação” de 1502, “O Velho da Horta” de 1512, “Farsa de Inês Pereira” de 1523 e sua principal obra, “Auto da Barca do Inferno” de 1516.

Os autos são peças dramatúrgicas de curta duração, surgidas na Idade Média, que possuem aspectos religiosos ou moralizantes em seu enredo. Já as farsas são peças muito mais curtas, geralmente apenas um ato, de caráter mais caricato, cômico.

Utilizando de uma linguagem mais próxima da coloquial, Gil Vicente se utiliza do formato dos autos e farsas para abordar temas contemporâneos de sua época, de forma a criticar e provocar a reflexão sobre costumes da sociedade portuguesa.

Ilustração de Gil Vicente
Gil Vicente

Auto da Barca do Inferno

Também conhecido como “Auto da Moralidade”, escrito em 1517, por Gil Vicente, o “Auto da Barca do Inferno” é uma das mais importantes obras da cultura portuguesa.

A obra foi encenada no ano de 1531 fazendo parte da “Trilogia das Barcas”, junto de “Auto da Barca do Purgatório” e “Auto da Barca da Glória”.

A história se dá pela presença de dois barqueiros, Anjo e Diabo, que recebem as almas de falecidos que passam pelos seus julgamentos e são encaminhados para as barcas que merecem.

A maioria dos personagens, pelos seus feitos pecaminosos em Terra, são mandados à Barca do Inferno, deixando claro na obra que poucos mereciam o reino dos céus, crença extremamente popular da Europa católica da época. Ainda assim, quem seguia os mandamentos divinos e vivia uma vida simples era merecedor do acesso ao céu, através da barca do Anjo.

A riqueza da obra se dá pelos diálogos entre os julgados (personagens) e os juízes (Anjo e Diabo), onde é visível a analogia entre os personagens como estereótipos das diferentes composições da sociedade da época.

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